quarta-feira, 29 de maio de 2013

Amor e trabalho


"Eles e elas   são os pára-raios da sociedade”, define o psicanalista Aluney  Elferr durante uma das muitas conversas que já teve com pais de dependentes químicos que procuram por ajuda no Instituto NAF Brasil.  O especialista se refere aos dependentes químicos, vistos muitas vezes até pela própria família como irresponsáveis, imaturos e totalmente culpados por terem entrado nesta vida. São histórias que emocionam, principalmente porque retratam uma realidade preocupante: o sentimento de impotência de muitas famílias diante de uma inimiga em comum: a droga.

O Instituto NAF Brasil, Núcleo de Apoio às Famílias vai completar 11 anos de existência em 2013. Criado pelo teólogo e psicanalista Aluney Elferr realiza uma média de três mil atendimentos por mês e segundo estimativas do próprio especialista, entre 13 a 15 mil famílias já devem ter passado pelo NAF só no período em que o Instituto passou a funcionar na sede própria, localizada na rua Luiz Antony, 571, bairro Aparecida, em Manaus. O NAF trata não só o dependente químico, mas também sua família.

A reportagem acompanhou uma reunião de pais de dependentes químicos. Todas as histórias têm enredos bem parecidos, mas cada vida é tratada com um amor e carinho especial pela equipe comandada por Aluney. Durante a reunião, cada um fala da caminhada diária na busca pela recuperação de seus filhos e filhas. Na ocasião, eles são conscientizados que o maior desafio para conseguir tirar o dependente químico do vício, é fazer com que ele não vivencie mais o comportamento, que funciona como gatilho para o uso do entorpecente.

Aluney explica que o processo de recuperação pode levar o tempo equivalente ao que o paciente utilizou a droga. Nos primeiros meses, Aluney considera que o organismo “grita” pela falta da substância e são comuns as chamadas crises provocadas pela abstinência. Os sintomas variam muito de pessoa para pessoa, numa guerra travada entre o corpo e a mente. Um, reagindo à falta do que já estava acostumado a receber com freqüência e a outra, buscando mecanismos para evitar a recaída. 

Em 2009, o Instituto NAF Brasil elaborou um Relatório Situacional de uso de Drogas em Manaus. Apesar de não ser um estudo atualizado, já fazia um recorte sobre o consumo de drogas na cidade. O estudo foi realizado pelo Núcleo de Pesquisas do NAF. Foram entrevistadas 3.600 pessoas divididas pelas seis zonas geográficas da cidade.De acordo com os dados apontados no relatório, a maioria dos usuários de droga em Manaus é composta por homens (cerca de 81%), na faixa etária de 16 a 19 anos (28%), com renda familiar que varia entre R$ 1.200 a R$ 3.500 (36%). Os usuários possuem grau de instrução médio (36%) e apontam como fator motivador de uso de drogas, a família (71%). 

A droga mais conhecida pelas pessoas ouvidas durante a pesquisa é a pasta base (26%). Setenta por cento (70%) dos entrevistados afirmou não conhecer local de tratamento em Manaus. Setenta e quatro (74%) das pessoas ouvidas afirmaram que é fácil adquirir drogas na cidade. Sessenta e dois por cento (62%) disse que usou drogas pela primeira vez nas baladas. Oitenta e nove (89%) afirmou não ter ouvido falar em uma política pública voltada ao problema das drogas. O relatório também apontou um percentual de 20% de usuários de drogas concentrado na Zona Leste da cidade.Dados repassados pela Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) por meio do Infopol, informam a quantidade de ocorrências relacionadas a porte e tráfico de entorpecentes registradas, em Manaus.

Em 2010, foram registradas 1.704 ocorrências relacionadas apenas a porte de entorpecentes. Os números apontam a maconha (com 516 ocorrências registradas) como o tipo de entorpecente mais apreendido de janeiro a dezembro, seguida pela pasta base (com 431 ocorrências). Em 2011, com dados levantados até o mês de agosto, já foram registradas 382 ocorrências de porte de maconha, seguidas por 308 registros de porte de substância entorpecente. Em 2010, a zona da cidade que teve o maior registro de ocorrências de porte de entorpecentes foi a zona norte, com 480. Até agosto de 2011, a zona norte continua figurando como a área da cidade com maior registro de ocorrências relacionadas a porte de drogas, com 402 ocorrências.

Em relação às ocorrências relacionadas ao tráfico de drogas, a pasta base assume a liderança . Em 2010, do total de ocorrências (983), 342 foram relacionadas ao tráfico de pasta base, tendo a zona norte como a que registrou o maior número de ocorrências (295). Os dados referentes até o mês de agosto de 2011, apontam um aumento nas ocorrências registradas por tráfico de pasta base (392). A zona norte continua figurando nas estatísticas como a de maior registro de ocorrências também por tráfico (396).

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